Alguns acreditam, de fato, que esse livro tenha sido uma pretensão da juventude de Dostoiévski. Parece que o autor tinha grandes planos para a obra, mas não conseguiu construir nela tudo o que planejava. Seus críticos não veem nela muitos personagens reais, vivos, mas os há fazem valer a pena a leitura.
Escrito, como de costume, sob a pressão das dívidas de jogo, e publicado pela primeira vem em 1859, no periódico “Anais da Pátria”, Selo Stepantchikovo i evo obitateli é a história de um agregado (Fomá Fomitch Opískin) que se torna senhor (de fato, não de direito) em uma casa de campo graças ao coração-mole e grandemente influenciável do verdadeiro senhor da propriedade (Egor Ílitch Rostániev), e, sem ter méritos que o distingam especialmente, torna-se alvo da adoração de quase todos na casa, a que responde com uma incrível suscetibilidade e caprichos por vezes absurdos.
O romance é narrado em primeira pessoa, do ponto de vista de Serguei Aleksandrovitch, o jovem sobrinho estudante de Egor Ílitch que este chama de São Petersburgo à aldeia de Stepantchikovo para ajudá-lo em um negócio importantíssimo.
Chegando lá Serguei se depara com uma série de personagens peculiares, que nos exibe através de suas próprias atitudes: a solteirona enriquecida Tatiana Ivanovna, o criado dândi Vidopliassov, o criado-menino de casa Falalei, o vizinho Bakhtcheiev, e principalmente, Fomá Fomitch e Egor Ílitch que são, na palavra dos críticos, duas autênticas personalidades russas, antes não devidamente exploradas na literatura.
Se você nunca sentiu vontade de entrar num livro e esbofetear um personagem, abraçar e consolar um outro, e etc., eis um livro que pode te proporcionar a experiência.
O enredo é bastante leve e segue em passo apressado; toda a ação se desenrola em 48 horas, com entradas e saídas dignas de teatro (o que alimenta as especulações de que a história, antes, tivesse sido imaginada para uma peça) e os acontecimentos se sucedem apressadamente rumo à derrota, que se torna em triunfo, de Fomá.
Embora os que estão acostumados com as obras sombrias e pesadas de Dostoiévski, como “Crime e Castigo” e “Recordações da casa dos mortos” possam estranhar a veia cômica revelada na Aldeia, o autor está presente em cada linha nesta obra que é considerada de transição, justamente, para a fase em que ele escreveria essas obras mais sérias. E, vendo-o em cada linha, não poderão deixar de apreciar o livro.
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