BLOG PARA DIVULGAÇÃO DA LITERATURA RUSSA AOS FALANTES DE LÍNGUA PORTUGUESA.

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Antigamente, não eram incomuns as disputas literárias, especialmente sobre assuntos em voga na sociedade no momento, mais ou menos como hoje fazem com os memes.

Hoje trago uma "disputa" em versos sobre a beleza dos olhos de duas beldades russas do início do século XIX.



Em 1828, o poeta Piótr Vyazemskiy escreveu o poema "Olhos Negros" (Чёрные очи) em homenagem a Aleksandra Ossipovna Smirnova-Rosset:



Estrelas do sul! Olhos negros!
Fogos de um outro céu!
Vos encontrarão os meus olhares
No céu frio de uma meia-noite pálida?



Constelação do sul! Zênite do coração!

O coração, admirando vocês,
Com uma volúpia sulina, com sonhos juvenis
Bate, aflige-se, entra em ebulição.



O coração se envolve em um secreto

Enlevo, no vosso fogo queimando;
Sons de Petrarca,canções de Torquato
Estás, na profundeza muda, buscando.



Melodias surdas! Ímpetos vãos!

Ai! Não há canções no coração!
São sulinos os olhos da moça do norte
Meigos e apaixonados, como você!





Южные звёзды! Чёрные очи!
Неба чужого огни!
Вас ли встречают взоры мои
На небе хладном бледной полночи?


Юга созвездье! Сердца зенит!

Сердце, любуяся вами,
Южною негой, южными снами
Бьётся, томится, кипит.



Тайным восторгом сердце объято,

В вашем сгорая огне;
Звуков Петрарки, песней Торквато
Ищешь в немой глубине.



Тщетны порывы! Глухи напевы!

В сердце нет песней, увы!
Южные очи северной девы,
Нежных и страстных, как вы!

________________________________________



NO MESMO ANO, em resposta, Aleksandr Púchkin escreveu o poema "Os Olhos Dela" (Её глаза), em que, bem-humorado, concorda que Aleksandra é bonita, mas defende que sua musa - Anna Alekseievna Olenina - é mais:


Ela é doce – direi aqui entre nós –
O terror dos campeões da corte,
E pode-se, com as estrelas do sul
Comparar, em versos especialmente,
Os seus olhos circassianos,
Ela reina sobre eles com ousadia,
Eles ardem com um fogo vivo;
Mas reconheça, nem chegam aos pés
Dos olhos da minha Olenina!
Que gênio pensativo há neles,
E quantas simplicidades infantis,
E quantas lânguidas expressões
E quantos prazeres e sonhos!...
Se os baixa com um sorriso essa Lelia[1] -
Neles há, de modestas graças, uma solenidade
Se os levanta – o anjo Rafael
Provavelmente assim contempla a Divindade.




Она мила — скажу меж нами —

Придворных витязей гроза,

И можно с южными звездами
Сравнить, особенно стихами,
Ее черкесские глаза,
Она владеет ими смело,
Они горят огня живей;
Но, сам признайся, то ли дело
Глаза Олениной моей!
Какой задумчивый в них гений,
И сколько детской простоты,
И сколько томных выражений,
И сколько неги и мечты!..
Потупит их с улыбкой Леля —
В них скромных граций торжество;
Поднимет — ангел Рафаэля
Так созерцает божество.




Os retratos são das duas moças homenageadas. Meus agradecimentos a meu amigo Артем Петухов, que, ao me ajudar a interpretar o poema de Púchkin, me apresentou esse interessante incidente de diálogo literário e os versos de Vyazemskiy.



[1] Na mitologia eslava, é a deusa do amor e do casamento.

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