A palavra de hoje do Vocabulário Russo, aportuguesamento do termo russo "mujik", já está incorporada à nossa língua, constando do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.
O mujique, nos clássicos russos, é o homem do campo. Comumente, era um servo rural “pertencente” a alguma aldeia, já que, na Rússia, até 1861, existia o direito de servidão, graças ao qual os camponeses estavam ligados à terra em que nasciam. Quem comprava ou vendia uma terra, adquiria ou alienava, com a propriedade, as “almas” dos camponeses residentes nela (daí o título do livro do Gogol, “Almas mortas”).
Contudo, “mujique” não é sinônimo de “camponês” (krestian, em russo). A razão para a palavra ser mantida do original (ainda que aportuguesada) é que ela representa todo um modo de vida e mentalidade. O mujique típico era um homem simples, religioso e supersticioso, misto de trabalhador e preguiçoso, sobrecarregado de trabalho e das agruras da vida, que muitas vezes lidava com elas na base da esperteza, e outras tantas encontrava consolo para seus sofrimentos na vodca. Um fruto típico da Mãe Rússia, com umas nuances de Jeca Tatu e de Pedro Malasartes, pode-se dizer.
Por extensão, a palavra era aplicada também para outros membros das camadas sociais mais baixas, geralmente num tom pejorativo, por estar associado à pobreza, à rudeza ou à ignorância.
Por outro lado, o mujique é uma figura importantíssima na cultura do país, a quem os pensadores e os autores russos dedicaram muita atenção e que revestiram com uma certa aura romântica, associando-o àquilo que é genuinamente russo, e contrabalançando o sentido pejorativo.
“Mujik” é um diminutivo de “muj”, palavra que hoje significa “marido”, mas em sua origem designava simplesmente um homem, casado ou não. Por isso, atualmente o termo “mujik” é mais usado como gíria – um pouco vulgar, rude ou cômica – para homem, especialmente um homem tradicional, machão.
A figura feminina correspondente ao “mujik” é a “bába”, mas como essa palavra tem outros sentidos e conotações, melhor tratar dela em um post separado, outro dia.
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